Pular para o conteúdo principal

Um mundo que desliza.


O mundo está às nossas mãos! A cada momento em que fazemos ele deslizar escolhemos um pouco do que somos, da realidade que vivemos e de quem nos cerca. Consciente, ou inconscientemente, a cada “deslizada” mergulhamos um pouco mais na bolha que nos envolve.

Vivemos em uma bolha que se fecha e torna-se sempre mais monocromática a cada passada de dedo e a cada pessoa que silenciamos. Já não nos interessa ver os fatos que contrários às nossas concepções e recebemos somente as noticias que desejamos, sob as perspectivas que previamente escolhemos. O mundo, cada vez mais incolor, se parece cada vez mais com o quadro que nós mesmos pintamos.

No ato de deslizar, curtir, aplaudir, ou silenciar, geramos em nós mesmos a impressão, sempre mais convicta, de que nossa visão de mundo é a correta. Todo aquele que de nós discorda é um alienado, um insano, ou quem sabe um maldito conspirador. Paranoicos somos nós que julgamos enxergar através um vidro claro, quando na verdade somente enxergamos falsas matizes do caleidoscópio de nossa pequena bolha.

O mundo fechou-se por culpa do Corona Vírus, alijando-nos do convívio social e do contato humano. Muito lamentamos, e sempre mais nos isolamos em nossas convicções. O que aconteceria se o vírus fosse digital e nos obrigasse a sair das redes sociais e partir para o contato humano, onde nem sempre podemos escolher os fatos e pessoas que concordam conosco?

Do mundo que desliza em nossos dedos, quantas vezes somos capazes realmente de visualizar além de nossas próprias opiniões?

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O que fazer com a Barsa?

Dias atrás recordava-me da minha infância e da presença da enciclopédia Barsa na minha casa. Lembro dos muitos volumes brancos que tomavam conta de um armário. Assim como a Barsa, haviam ainda outras Enciclopédias, como a Britânica e a LaRousse. Durante grande parte do meu ensino fundamental a fonte de busca para meus trabalhos escolares era esse volume de livros, todos de folhas grossas e com uma impressão que deveria ser muito cara na época.   O mundo das enciclopédias fez com que meus pais, e os pais da minha geração ensinasse aos seus filhos que viveríamos uma sociedade de informação. O valor informacional e financeiro das enciclopédias, representado inclusive pelo luxo de suas edições, mostrava aos nossos pais que conhecimento e cultura eram bens escassos e de alto valor. Criados em meio a essas informações, fomos preparados para uma “sociedade de informações”, porém não se compreendeu que a dimensão das informações na contemporaneidade.   Descoberto o engano co...

A (Im)Previsão do Tempo

Amanhã seu dia é muito importante. Você está se preparando para dormir, e já vai deixar a roupa arrumada para quando acordar. Abre o celular e consulta a previsão do tempo em algum App. Você já fez isso. Chuva às 7 horas, sol às 8, neve às 9 e 45º às 10. Tudo normal. Você se deita para dormir. No outro dia, você acorda e conforme o tempo vai passando, se dá conta de quantos erros aconteceram naquela previsão do tempo. Você para e pensa que, antigamente, quando acompanhava a previsão do tempo na televisão, eles pareciam acertar mais, e se pergunta porque com tanta tecnologia eles conseguiram piorar seus métodos. Como tudo no mundo, a previsão do tempo também ingressou na modernidade. Não basta mais prever que choverá no dia de amanhã, mas também qual a previsão para cada hora do dia e, às vezes, até em qual bairro da cidade, incluindo umidade do ar e quantos milímetros de chuva. E quanto mais pontuais e definitivas as previsões, mais claro fica quando os erros acontecem. A culpa...

Nem tudo é Hakuna Matata

Fui ao cinema esperando rever um desenho de minha infância. Saí de lá com a certeza de ter visto um dos melhores filmes de minha vida. Se o desenho foi feito para o público infantil, a live-action atingiu em cheio o público adulto. Simba amadureceu com o público que não imaginava poder se surpreender tanto. Um belíssimo filme. Poderia tentar, em vão, descrever a fotografia impar do filme, compará-lo a Platão e Maquiavel, retratar a leveza de Timão e Pumba, ou, ainda, tentar traçar as nuances filosóficas e as transformações por que passam cada um dos personagens, mas nada disso descreveria o tamanho do Rei Leão. Nem mesmo falar que Hamlet está ali seria o suficiente.  Os desafios e a trajetória do Filme, são paralelas à história de Simba. O primeiro grande desafio é entender o quanto a expectativa sobre o filme poderia arruiná-lo; o quanto ele poderia ser simplesmente uma cópia sem graça de um desenho ou de outro lado arruinar a construção realizada. Rei Leão, assim...