Em meio ao
caos instaurado pela crise do Corona Vírus, vemos as mais diversas
manifestações de cunho político. O momento pede grandes líderes e estadistas de
envergadura, e quando o momento pede tais pessoas, todos que podem, tentam ser
ou parecer tais personagens na história.
O fato que me
traz a escrever é a negativa da câmara dos deputados em utilizar parte do fundo
eleitoral para o enfrentamento ao Corona Vírus. Não farei aqui uma análise dos
motivos políticos, jurídicos ou propriamente do regimento da Câmara dos Deputados
a respeito do tema. O que quero trazer à reflexão é como temos um descolamento
entre a vontade popular e sua manifestação parlamentar. Nossos parlamentares,
em sua grande maioria (e aqui ressalvo que há sim bons exemplos), se
desvincularam de quem os elegeu. Vivemos uma gravíssima crise de
representatividade.
Quando
paramos para pensar em como anda a coisa em nosso país, percebemos que há no
povo claras divisões. Existem os muito ricos, a quem a politica interessa como
meio de obtenção de vantagens, mas que não afeta tantos assim o seu dia a dia e
seu “ganha pão”. Há os muito pobres, a quem não dá tempo de pensar em política
pois há que garantir o pão. Finalmente, há um grupo no meio que tomou posições
políticas maniqueístas e dicotômicas, importando-se muito em combater o lado
contrário com justificativas ideológicas e muito pouco nexo causal com a
realidade. Essa “classe média” é caixa de ressonância para os mais diversos
discursos e práticas políticas.
Ao olharmos
para os centros do poder, especialmente Brasília, o que temos é uma classe
política onde muito poucos estão realmente se importando com ideologia, com o
que pensa e quer o povo que os elegeu. Vivem às custas do povo, sendo
carregados por estes, mas votam e agem em favor próprio ou de pequenos grupos
de interesses. E a quem perguntar se estou falando apenas do legislativo
federal, respondo que se trata de todos os poderes em todas as esferas.
O ataque não é pessoal a qualquer “autoridade”,
mas contra um sistema carcomido, pois assim foi projetado. Como aprendi de
Percival Puggina, se tu queres colher morangos, não plante um tomateiro. Há
muito tempo viemos esperando nascer tomates da jabuticabeira que é nosso
sistema político.
Essa pequena
reflexão está longe de apresentar ou dialogar a respeito das soluções, mas
acredito que de modo geral as pessoas tem se interessado mais em debater e
entender o que acontece nos palácios e gabinetes, e que quando formos capazes
de excluir posicionamentos maniqueístas, seremos capazes de encontrar soluções
para nossos problemas como sociedade.
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