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Pós Imprensa e Cisnes Negros. Cavani e Mandetta


São tempos apressados, os que vivemos, e eu sempre ouvi dizer que apressados comem cru e quente. As notícias explodem em segundos, viram trending topics e nem sequer foram digeridas, antes que uma nova informação venha e mude todo o paradigma estabelecido há séculos atrás - no último segundo. 

Convido o leitor a digitar Mandetta no Google e perceber quantas notícias foram publicas na tarde de hoje, apontando para as mais diversas direções. O objetivo aqui não é discutir se o Ministro da Saúde – é ou não é? – foi exonerado ou não, quais os motivos ou se isso é bom ou ruim. O que me incomodou e muito nesta tarde foi perceber o quanto isso foi reportado, sem ser um fato. A imprensa, em sua grande maioria, já não se contenta em noticiar, hoje seu grande trabalho é prever, e aí meus amigos é que a porca torce o rabo. E para não ficar preso a questão política, vide o caso do suposto interesse de Grêmio e Inter por Cavani. Notícia? Jamais! Somente especulação.

O avanço da tecnologia de informação e a penetração massiva da internet em todos os meios fizeram com que o mercado pagasse muito bem às notícias mais urgentes. Entendo que antigamente (seja lá quanto tempo isso signifique) um furo jornalístico dependia em muito da habilidade do jornalista, sua rede de informações e um pouquinho de sorte. Ao repórter as batatas. Hoje, o furo é altamente improvável dada a velocidade em que a informação se dissemina. Se o furo de reportagem não é mais possível, o jornalismo busca prever a notícia para estar a frente do seu concorrente.

Taleb, em seu livro “A Lógica do Cisne Negro”, deixa implícito que a leitura de jornais (quanto mais jornais lidos pior) somente prejudica a nossa interpretação e nossa capacidade de predição dos acontecimentos futuros. Isto porque a leitura desses mesmos jornais viria a impregnar a mente do leitor com vieses e que assim o incauto procuraria replicar em sua predição, vindo a errar na maior parte das vezes.

O que vemos é uma imprensa que já não podendo “fisgar” cliques com as notícias mais urgentes, pois elas provavelmente já foram publicadas por outro canal, começa a fazer predições (bem intencionadas ou não) a respeito dos fatos, a fim de ter a notícia mais quentinha do momento. E aí, caro leitor, está o apressado que comeu cru. Ele não cozinhou a notícia, ela não está pronta (pois sequer aconteceu). Nem que fosse um miojo não seria cozida tão rapidamente quanto as redes sociais exigem. E pior, o leitor será intensamente prejudicada pela temperatura extrema de uma notícia impregnada dos vieses e crenças do Jornalista. 

 Taleb, no mesmo livro, fala de quanto os especialistas erram em suas predições – tanto quanto os não especialistas -, com o agravante de que acreditam, e muito, na sua capacidade preditiva. A imprensa, o especialista do momento, cada vez mais clama pelo combate às fake News, quando na verdade é ela quem perde sua credibilidade por cada vez noticiar menos e tentar prever – erradamente – mais.


Comentários

anebr disse…
Parabéns pela análise!

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